domingo, 13 de abril de 2014

A PRIMEIRA GRANDE BATALHA DO ROSCOE

Sou o filho mais novo dos quatro que meus pais tiveram juntos. O mais novo e com três irmãs. E irmãs tradicionalmente femininas, do tipo que brincavamm de boneca, casinha, comidinha... aquelas coisas cheias de cores rosas em quase tudo.

Durante o meus primeiros cinco anos nós morávamos em São Paulo. Meu pai tinha uma indústria de móveis bacana em Guarulhos e uma loja no centro de São Paulo. O veio tinha talento para ganhar dinheiro, mas tinha para perde-lo também. Lembro-me que ele tinha mais carros que o comum para a época: Kombi, Sinca, DKW Vemag Candango foram alguns que ficaram na minha lembrança. Lá pra época do golpe militar, em 64 os negócios de meu pai já não iam tão bem como antes e ele resolveu voltar e recomeçar a vida com a família em Belo Horizonte. Duro de tudo, fomos morar com minha avó em um apartamento da minha saudosa vó Maura.
Eu, com 5, 6 anos, morando em apartamento, sem amigos, só restavam minhas irmãs para eu poder brincar. Brincava do que aparecia e, claro, brincava das coisas rosinhas também.
Um tio meu, vendo aquilo se passando, foi logo avisando ao meu pai: "Deste jeito, este menino vai virar viado". Acho que isto mexeu com meus pais. Meus pais, mesmo apertados de grana, correram para me matricular numa escola de judô para que eu não virasse viado. Judô! Puts. Era o que tinha de mais macho na época, acho. 
A escola era bacana, chamava-se Samuray Gym. Eles acertaram no endereço da rua onde eu travaria algumas de minhas grandes batalhas na vida. Só erraram no número. A academia ficava na mesma rua onde há 21 atrás anos eu abri a empresa Asker, endereço onde travei e travo importantes lutas para a minha vida profissional e, claro, com ônus e bônus para a vida pessoal também.  
Voltando ao Roscoe lutador de judô: o que eu mais gostava da academia era do citrovit. Citrovit, acho que ainda existe, era um pó que continha vitamina C. Se misturava na água, era doce pra caramba e os alunos eram obrigados a tomar antes das aulas. Das aulas, o que eu mais gostava mesmo era do aquecimento. Contar até 10 em japonês, gritando, abrindo e fechando as mãos com os braços estendidos, era o máximo. Sobre os treinos de luta, achava aquele agarra agarra meio sem noção, meio besta mesmo. De todos, tinha um golpe que eu respeitava, o golpe balão, cujo nome técnico eu nem me lembro agora. O balão era show demais. Jogar o cara longe, era bem legal, esse tinha meu respeito. 

Aquela história de derrubar o cara, ficar rodando no chão, grudado, eu não achava legal não. 
Alguns poucos meses depois de saudosos citrovites, eu ainda carregava a minha faixa branca. Veio, então, o grande dia da disputa por faixa. A nova faixa seria a Amarela, a mesma do Citrovit. Eu deixaria de ser um novato para virar um light. O primeiro evento grandioso para aquele pequeno Roscoe. É certo que eu acreditava no poder do citrovit, e eu sabia que o citrovit não deixaria de ser servido naquele dia.  Final de semana lotado, jurados, muitos candidatos, público e... minha família na arquibancada. Pai, mãe e irmãs. A grande batalha pela faixa amarela. Ali meus pais poderiam levar para meu tio a medalha e a faixa da cor do citrovit para esfregar na cara dele e dizerem: "-olha meu filho macho aí rapaz!" 
No anúncio dos lutadores eu fiquei conhecendo o meu adversário. Não me lembro o nome dele, mas sei que ele já tinha a faixa amarela. Pensei: 
"- O cara é amarela, eu branca, mas o Citrovit é amarelo eu eu já o tomei. Vou pra cima. Quem sabe eu dou um balão nele? Já pensou minha família vendo eu dando um balão no cara?  O golpe mais show que existe, já pensou?"

Bora pra luta, família Roscoe de olho e...  o Roscoe Citrovitado apanhou, mas apanhou tanto... parecia um saco de batatas na mão de chapa do ceasa,  do ceagesp, ou coisa do tipo. 

Acho que foi minha primeira grande luta, especialmente por estar na frente da família. E eu perdi. Perdi feio. Deve ter sido uma grande derrota para meus pais também. Para eles, parecia que eu estaria fadado a ser viado mesmo, tinha jeito não. Apanhar... tudo bem, mas daquele tanto só podia ser coisa de viado mesmo. 

Depois daquela luta, nunca mais voltei ao Samuray Gym. Nunca mais tomei Citrovit. Larguei a faixa branca da novatos e meus pais resolveram esperar para ver no que daria aquele menino que torrava a grana deles para tomar Citrovit.

Um comentário:

  1. Amigão eu to dando muita risada aqui , vc e uma peça rara kkkkkkkk... Abração Wilton Pena #53

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